Por que o bambu é considerado o ‘aço verde’ da construção civil

A construção civil é um dos setores mais importantes da economia mundial, mas também é considerada como a principal vilã da natureza. Isso porque ela consome boa parte dos recursos não renováveis do planeta. Felizmente, em contrapartida, diversas instituições ao redor do mundo estão atentas a essa questão, incentivando pesquisas voltadas ao desenvolvimento ecológico e à sustentabilidade. Preocupados com o futuro, profissionais têm testado novas possibilidades de estruturas, explorando melhor as potencialidades de materiais não tão usuais, como o bambu.

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O emprego do bambu na construção civil

Esse vegetal, da família da Gramínea, é conhecido pelo homem desde os tempos mais remotos. Erguer estruturas em bambu é uma arte bastante dominada pelos povos orientais. Embora haja uma considerável concentração nativa também nas Américas, com extensas reservas da planta inclusive no Brasil, o material é visto com preconceito pelos projetistas, que o encaram como sendo de baixa qualidade. Por isso, nos dias de hoje, o bambu é pouco utilizado em obras de arquitetura. Na verdade, o que falta mesmo são normas que o regularize adequadamente para o mercado da construção civil.

Exemplos de obras contendo esse vegetal podem ser encontrados no mundo todo. Em Bali, na Ásia, uma fábrica com mais de dois mil e quinhentos metros quadrados é considerada a maior estrutura já erguida em bambu. Na Europa, o aeroporto de Madri possui um extenso revestimento de fachada nesse material. Na Colômbia, país do continente americano, há registros de obras antigas, do período pré-colonização, e contemporâneas como a Catedral Alterna Nuestra Señora de La Pobreza, de Simón Vélez. Aliás, esse arquiteto é o maior responsável, atualmente, por promover o uso do bambu como elemento essencial na construção.

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O bambu para a arquitetura vernacular

É inegável a beleza e a versatilidade do bambu, assim como a riqueza arquitetônica, de aparência ancestral, das obras que o utilizam como elemento construtivo principal. Devido às suas boas qualidades, como baixos custos e coeficientes, o material tem ganhado mais espaço em projetos sustentáveis, com usos constantemente reinventados pelos arquitetos. Essa é uma excelente contribuição para o futuro da construção civil, que ainda busca encontrar melhores soluções para se conciliar natureza e tecnologias, sem esquecer-se da estética.

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São características das estruturas em bambu:

– Leveza – seu peso é bem menor se comparado ao de outros materiais;

– Resistência – aos esforços de tração, flexão e compressão;

– Durabilidade – quando bem tratada, uma edificação em bambu pode durar por até três décadas;

– Economia – o emprego desse material pode representar uma diminuição de até um terço do valor total de um projeto, principalmente quanto à questão do seu transporte até o local da obra;

– Eco friendly – a extração do bambu é menos danosa ao meio ambiente; além disso, o material ajuda a prevenir erosões e regular as águas subterrâneas, é biodegradável, renovável e não poluente.

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Estruturas a partir de esqueletos de bambu

A cada dia os elementos são mais bem introduzidos nas obras arquitetônicas. Há diferentes formas de empregar e também várias técnicas para construir com bambu. Ele pode ser unido a outros materiais – terra, cimento e vidro – para formar, reforçar ou revestir estruturas, como lajes. Ou então, ser a única matéria-prima utilizada na edificação, substituindo pilastras e vigas tradicionais, por exemplo. Peças bem trançadas, parafusadas, encaixadas ou amarradas têm condições de apresentar resistência similar ao aço. Por isso, o bambu é chamado por muitos como o ‘aço verde’ da construção civil.

As espécies de bambu mais indicadas para o uso estrutural na construção civil são: Taquaruço, Dendrocalamus e Phyllostachys pubescens.

Patologias recorrentes nas estruturas em bambus

Apesar de todas as qualidades características, o bambu também apresenta pontos fracos. E o desconhecimento disso, por parte do projetista, pode resultar no colapso da estrutura. Primeiro, deve-se ter cautela na escolha do sistema construtivo, pois ele precisa ser compatível com o material e com o projeto. Esforços excessivos, atuantes de forma inadequada, podem provocar o cisalhamento das peças solicitadas. Por isso, é recomendável que a edificação não passe de dois pavimentos, a não ser que o bambu seja combinado com aço e concreto.

Por último, é preciso avaliar as condições de variações de temperaturas, chuvas e raios solares incidentes, que possam degradar mais rapidamente a estrutura. Mudanças de dimensões e surgimento de rachaduras podem ser evitadas realizando, de forma correta, a colheita e a secagem do material. Varas secas terão mais resistência e serão menos suscetíveis ao ataque de pragas, como carunchos. O processo mais comum para tratamento do bambu é a imersão em água. Mas a combinação defumação, calor e substâncias – como seiva de banana, cera de abelha e de carnaúba – tende a funcionar mais rápido. (Blog da Arquitetura)